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CAMPEONATO DE APURAMENTO SELEÇÃO NACIONAL CADETES 2020

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A AD Judo Force participou na prova com quatro atletas. Iracema Manarte, Sofia Oliveira, Ivo Santos e Pedro Valentim. Todos eles se esforçaram, correspondendo às suas reais capacidades. Dos quatro, as duas meninas já haviam sido medalhadas em nacionais de Juvenis, enquanto o Ivo já tinha sido segundo classificado em Juvenis e terceiro em Cadetes.

À medida que os judocas vão progredindo nos diferentes escalões etários, aumenta o coeficiente de dificuldade para estes obterem resultados relevantes, ou seja, o acesso ao pódio. A partir de Cadetes, os dois primeiros classificados de cada peso são apurados para trabalhos de seleção. Passam a ser convocados para estágios e competições internacionais. E foi precisamente isso que a Iracema Manarte conseguiu, ela que já se tinha sagrado Campeã Nacional de Juvenis em 2018. Isto é fantástico, aliciante e muito motivador. Para a própria, para os seus companheiros e companheiras de treino, para os nossos treinadores e para o clube.

Mas mais impressionante, é concluir-se existir muito boa matéria prima para ser trabalhada numa região, digamos, problemática na modalidade. Com efeito, não é nada fácil alcançar resultados deste nível e, muito menos, repeti-los. Por exemplo, o último atleta nortenho (por sinal o único) a competir ao mais alto nível, data de 1996 (Augusto Almeida Jogos Olímpicos de Barcelona), a região esteve sem um campeão nacional de seniores durante 21 anos (feito conseguido por Alexandre Silva em 2016 ao serviço do Boavista FC e já lá vão quase quatro anos) e também nunca havia sido conquistada uma medalha num nacional de equipas para a região (jejum interrompido pelo nosso clube em 2019 no nacional de equipas juniores) pelo menos desde que há registo de 50 anos. Ora, isto é um retrato incompreensível e inconcebível. Em comparação com outros distritos e cidades, nós cá “para cima” temos muito menos condições. Os clubes existentes são em quantidade reduzida, de pequena dimensão e com grupos de trabalho pouco significativos. O nosso é um desses casos. Na sua grande parte não são puramente clubes de Judo, mas sim colectividades que apostam no ecletismo, oferecendo múltiplas modalidades na sua grande maioria, colectivas. O Judo para ser praticado necessita de tapetes instalados, uma despesa que leva muita das vezes a um não investimento, atitude muito comum a clubes e treinadores ligados a este desporto. Numa outra perspectiva, grande parte dos treinadores estão dedicados apenas à formação, não conseguindo assegurar a transição interna dos seus atletas, de forma a os manter e motivar em busca do sucesso. Muitos potenciais talentos vão ficando pelo caminho, o que se lamenta. Certamente isto é corrente em toda a parte, mas com impacto mais negativo em comunidades de judocas mais pequenas.

Comparativamente, também em termos organizacionais estamos muito abaixo e até prejudicados. Por exemplo no que respeita a treinos federativos e associativos. No primeiro caso, em Lisboa estão disponíveis dois treinos federativos por semana. São reunidos em cima do tapete largas dezenas de atletas de elevado nível, que treinam entre si. Em Coimbra sucede algo semelhante, um vez por semana. A orientar estas sessões, estão técnicos consagrados, experientes e com curriculum em termos de resultados. No Norte, salvo erro ou omissão da nossa parte, a última acção deste género a que se pode chamar com propriedade de “treino federativo”, este foi orientado por Go Tsunoda e ocorreu em Outubro de … 2017. De um passado aonde se registou a vinda de treinadores de gabarito como João Neto, João Pina e Marco Morais, resta apenas a memória. No caso dos treinos associativos, o panorama é igualmente pouco animador, isto para não se dizer, desolador. Passamos do contributo dado pelo muitíssimo experiente João Neto, ao de um elemento integrante do conselho técnico da nossa associação distrital, o qual, pese embora o seu empenho, não lhe é conhecido trabalho feito, isto no que respeita a atletas por si formados que tenham sido medalhados em campeonatos nacionais durante os últimos, pelo menos, vinte anos. Ou seja, o manancial de conhecimento técnico/táctico está enfermo. E o mais preocupante, é que na nossa opinião existem condições para que isso não suceda. A não ser que existam outros interesses ou prioridades para que o panorama actual se mantenha. Na nossa modesta opinião, os clubes proporcionam receita mais do que suficiente para ser contratado pelo menos uma vez por mês, um técnico que possa acrescentar “utilidades” aos atletas que se deslocam aos treinos associativos. Estes, que decidem participar num treino associativo, têm duas coisas primordiais em mente:
1) Acumular conhecimento transmitido por quem realmente sabe mais do que eles, contribuindo fortemente para o seu progresso.
2) Ter acesso a um grupo mais diversificado de companheiros de treino, podendo assim testar a sua condição e conhecimento com parceiros diferentes daqueles com que treinam normalmente no clube.
Portanto, quanto melhor for o formador, maior a possibilidade de adesões.

A Iracema Manarte, a quem já parabenizamos numa anterior publicação, torna-se assim mais uma referência para a AD Judo Force, ainda para mais se sabendo da sua grande dedicação aos estudos. Trata-se de uma aluna absolutamente brilhante e uma judoca extraordinária, que já regista um bom palmarés, treinando em média … três dias (4.5 horas) por semana. O que poderá ser a Iracema Manarte e tantos outros miúdos e miúdas que militam no nosso e noutros clubes, se lhes forem proporcionadas as mesmas condições que estão disponíveis noutros locais? Será que o modelo associativo que tem funcionado bem noutros distritos, vai continuar a ser experimentado cá para cima? Claro, até pode surgir a justificação que tudo está perfeito. O número de atletas e clubes tem aumentado. E os resultados desportivos que teimam em não aparecer de forma consistente, surgindo de vez em quando uma ou outra excepção? E os atletas que vão desistindo da modalidade, quando se apercebem que não se podem tornar mais competitivos e eficientes, optando pela prática de outros desportos? Há números sobre isto?

O Judo só vai explodir no Norte quando existirem em número significativo, referências desportivas consistentes, modelares e contínuas. Campeões episódicos e treinadores que não conseguem colocar os seus atletas no alto rendimento, é a nossa realidade actual e que já persiste há décadas, certamente não por falta de dedicação, mas vá lá saber-se porquê. É assim bom que surjam, muitas e cada vez mais “iracemas”, para se esbater a ideia que os poucos sucessos que se alcançam não pareçam obra de um “milagreiro”.

Por fim, algo importante a referir, sobretudo porque falamos de atletas e treinadores. Tem a ver com o detalhe do Pedro Pinheiro, único técnico em actividade no Norte (e isto sem qualquer desprimor para todos os outros) que regista campeões nacionais em todos os escalões etários e uma equipa Vice-campeã; O bom trabalho, compreendido, incompreendido ou invejado, sobrepõe-se sempre à crítica. Comprar tapetes com dinheiro do seu próprio bolso e passar com eles anos a fio por três clubes aonde obteve sempre resultados positivos e relevantes, é o factor bestial que contaria toda e qualquer outra bestialidade.

Obrigado Iracema, obrigado Pedro e obrigado a todos os nossos atletas (dos mais novos aos mais velhos) e demais associados, simpatizantes, treinadores, patrocinadores, apoiantes e amigos. É já muito rebuscado mas; “um por todos e todos por um”.